quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Narciso cego



Tudo o que de mim se perde
acrescenta-se ao que sou.
Contudo, me desconheço.
Pelas minhas cercanias
passeio - não me frequento.
Por sobre fonte erma e esquiva
flutua-me, íntegra, a face
Mas nunca me vejo: e sigo
com face mal disfarçada.
Oh que amargo é o não poder
rosto a rosto contemplar
aquilo que ignoto sou,
distinguir até que ponto
sou eu mesmo que me levo
ou se um nume irrevelável
que (para ser) vem morar
comigo, dentro de mim,
mas me abandona se rolo
pelos declives do mundo.
Desfaço-me do que sonho:
faço-me sonho de alguém
oculto. Talvez um Deus
sonhe comigo, cobice
o que eu guardo e nunca usei.
Cego assim, não me decifro.
E a imaginar-me sonhado
não me completa a ganância
de ser-me inteiro prossegue.
E pairo - calado pânico -
entre o sonho e o sonhador.

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