Procuro,
folheio livros e livros,
em busca de um poema,
de um parágrafo, de uma frase,
que me falasse de ti
sem que eu tivesse que procurar-te
nas minhas entranhas.
Celan, Heine e Ginsberg não te conheceram,
e nem nos seus mais tristes versos
contam a falta que me fazes.
Mas as palavras dos outros são sempre
mais fáceis. Mais distantes.
Procurei,
em livros e livros,
um poema, um parágrafo, uma frase,
que me resguardasse da mágoa,
como janela de vidro protegendo o rosto
da chuva.
Mas nada do que leio
chega para contar o que sinto.
I miss you
Perco-te. Perdi-te.
Mais do que saudade, que a saudade,
a dor verdadeira está na eternidade
da tua ausência. I miss you
Perco-te. Perdi-te.
Nada que eu faça — nem que galgue quilómetros,
nem que nade o Atlântico — fará com que
me beijes novamente a testa,
que me chames outra vez filhote.
Fecho os livros. Não há poemas
que me possam abrigar a ferida em chaga
que faz hoje dois anos se me abriu na alma.
Com o rosto molhado de lágrimas, desvio
o olhar para a janela. Fixando as luzes da cidade
sob o fundo negro do céu e do rio, vejo o teu rosto
como se estivesses ao meu lado.
Instintivamente levo as mãos aos olhos,
para os secar.
Não quero que me vejas chorar.
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