quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei
—Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira
Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira"

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Não sei.....

Não Sei…

Sabes que não sei
porque desabrocham estas lágrimas de solidão,
sabes que nem nunca pensei sequer
porque amo esta infinidade
feita de desejo e prenhe d’emoção?

Isolo-me das mágoas, do silêncio inédito,
que esconde o mistério dito
e abraça a lenda do meu sofrer,
neste receio maior de te perder.

Não sei sequer do destino frutuoso
nem o meu estado
- talvez de carente amistoso -,
não sei…
da minha alma,
não sei…
do meu passado a sentir…
e não sabendo …
me sinta assim amado!

Paulo Afonso Ramos

          Anarcaqista    Quanta anarquia guardo  Quanta mudança existe em mim  Hoje, fecho os olhos, na rua, nos transportes, em tudo onde t...