sábado, 19 de dezembro de 2009
Mar..
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo
É só porque as tuas ondas são puras.
Sophia de Mello Breyner
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Tempo....
sábado, 12 de dezembro de 2009
Graal
Há uma outra leitura
domingo, 15 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Outra vez Clarisse...
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Miguel Rovisco..............
Nascimento: 1959, Lisboa
Morte: 1987, Lisboa
Dramaturgo português, nasceu em 1959, em Lisboa, e suicidou-se em 1987, na mesma cidade. Autor das obras Trilogia Portuguesa e Trilogia dos Heróis , além de numerosos textos inéditos, foi distinguido em 1986 com o Prémio Nacional de Teatro, cuja importância recusou receber. Postumamente, foram-lhe atribuídos os prémios Garrett, pela peça Retrato de uma Família Portuguesa , e Garrett para a Juventude, por Histórias de Tobias .
Bibliografia: Cobardias, Lisboa, 1988; Trilogia Portuguesa (O Bicho, Infância de Leonor de Távora, O Tempo Feminino), Lisboa, 1987; A História de Tobias, drama em dois actos, baseado no Livro de Tobias do Antigo Testamento, Lisboa, 1989; Retrato de uma Família Portuguesa, drama em três actos, Lisboa, 1989; O Homem Dentro do Armário, Lisboa, 1997
PEQUENA AUTOBIOGRAFIA
Eu nasci num dia de muita chuva, assim o afirma a minha mãe com espanto sempre que a nove de Dezembro a impertinência de umas nuvens breves a desaponta para lá das janelas. O meu pai desejava galhardamente que eu fosse um menino e essa foi a única alegria que eu lhe dei. (Fi-lo sem querer.) Na minha infância aprendi a recitar La Fontaine com a mais correcta das pronúncias, enquanto uma prima da minha bisavó nos chás das quartas-feiras declamava com agrado geral os alexandrinos arrebatados dos cardeais ceando. Ainda hoje se o astro rei brilha pelas alturas, este facto deve-se à modéstia da prima Adelaide que, enfim, não quis deixar Salamanca às escuras...
Depois fui crescendo e tornei-me grande. Tal sucede não apenas aos poetas mas a todos os meninos. (Há igualdade que vão mais cedo para o Céu e pelos quais não devemos chorar, pois foi Deus quem os chamou.) O Primeiro de Maio de mil novecentos e setenta e quatro, passei-o em casa, muito certo de que os acontecimentos daquele dia pelas ruas fora e pelo mundo não poderiam ser mais importantes que os desenrolados na Sagrada Rússia, cento e sessenta e dois anos atrás... – virando na expectativa as folhas do segundo volume. No Liceu de Pedro Nunes conheci por momentos uma felicidade impar, embora não me apercebesse na altura que os meus colegas eram mais puros dos heróis e que Virgílio acompanhava-me por todos os infernos e paraísos daqueles velhos corredores. Como a juventude desdenha a evidência! (Passados os vinte e cinco anos, ser-me-á permitido ironizar algum remorso mais vivo que desde então silenciosamente vem-me doendo – e muito.)
Quando constatei que o meu país não possuía um verdadeiro “teatro nacional” – lida algures esta expressão –, resolvi com toda a seriedade emendar este estado de coisas lamentável. Mas como? Da maneira que melhor me pareceu, ou seja, a leitura dos eternos clássicos traduzidos para português. Convenci-me logo que estava nas minhas capacidades escrever peças muitíssimos melhores – oh bem capaz! Então aqueles é que eram os shakespeares, os racines, os imortais do siglo de oro? Que esperassem por mim e já veriam... – até que um dia, por um desfastio fatal que me salvou, resolvi lê-los, aos coitados dos clássicos, na língua de origem. Hoje admiro-os inexcedivelmente, notando com orgulho a sua influência pelas entrelinhas do que escrevo. Azar aos tradutores da terra portuguesa!
... de resto, continuo a crescer. Em vez de grande, tendo agora tornar-me um pouco sábio, o que ninguém ignora constitui nestes tempos velozes o maior risco para se cair em pleno ridículo. Que faço na vida? Para além de uma dúzia de peças já escritas – estão na gaveta –, gosto de caminhar por Lisboa, aprecio o castelhano desembaraçadíssimo da santa de Ávila e tenho longas conversas de madrugada com a minha prima Adelaide, se estais lembrados. Há amores eternos. Concluímos teimosamente que as coisas vão mal, poderiam ir bem pior todavia! Melhorarão proventura se com esforço e honestidade... – ambos cremos que sim.
sábado, 2 de maio de 2009
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Hoje não vieste..........
Hoje não vieste, pergunto-me porquê. Ou terás
vindo, sem sobressalto para os meus olhos ?
Duvido de ti. Mais ainda do meu amor:
tamanha foi a espera que eu já não sei. Mas ficarás
para sempre
como o ultimo anseio do meu corpo - ainda que o perfume
eu esqueça.
Coisa rara - e esse pescoço esguio onde uma madrugada
imaginei......Quero-me convencer
de que tu não vieste - quantos hojes num para sempre ? -
e que ainda te aguardo. Sim imaginei-nos
um beijo.
Miguel Rovisco
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Se tu viesses ver-me.........
Se tu viesses ver-me...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Florbela Espanca
domingo, 19 de abril de 2009
Clarice Lispector ......
A amante humilde
«Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude.
"Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente! Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão...
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre! Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes... Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? EU ADORO VOAR!"
sábado, 18 de abril de 2009
Quando os meus olhos te tocaram.......
Eu sei que encontrara
A outra metade de mim
Tive medo de acordar
Como se vivesse um sonho
Que não pensei em realizar
E a força do desejo
Faz-me chegar perto de ti
Estas linhas que hoje escrevo
São do livro da memória
Do que eu sinto por ti
E tudo o que tu me dás
É parte da história que eu ainda não vivi
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Não sei quantas almas tenho.......
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
domingo, 15 de março de 2009
sábado, 7 de março de 2009
quarta-feira, 4 de março de 2009
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Ato de Contrição
Pelo que não fiz, perdão!
Pelo tempo que vi, parado,
correr chamando por mim,
pelos enganos que talvez
poupando me empobreceram,
pelas esperanças que não tive
e os sonhos que somente
sonhando julguei viver,
pelos olhares amortalhados
na cinza de sóis que apaguei
com riscos de quem já sabe,
por todos os desvarios
que nem cheguei a conceber,
pelos risos, pelas lágrimas,
pelos beijos e mais coisas,
que sem dó de mim malogrei
— por tudo, vida, perdão!
Adolfo Casais Monteiro
sábado, 17 de janeiro de 2009
Jorge Nicholson Moore Barradas, (Lisboa, 1894 - 1971)
Pintor português, Jorge Nicholson Moore Barradas nasceu em 1894, em Lisboa.
Os seus primeiros trabalhos, incursões no campo da caricatura e da ilustração, recolheram da crítica da época os melhores elogios. Enquanto ilustrador, colaborou em importantes jornais e revistas, como a Ideia Nacional , Seara Nova e Ilustração Portuguesa .
A experiência no campo das artes gráficas influenciou as suas primeiras obras, caracterizadas por um equilíbrio de cor, texturas e luz, associado a uma simplicidade do tratamento das formas.
Jorge Barradas estabeleceu a ligação entre a inspiração naturalista e a tendência fauve em representações da cidade de Lisboa e das suas gentes. Os seus quadros mais famosos retratam as lavadeiras e as vendedoras ambulantes de Lisboa, na azáfama do dia-a-dia. Na sua obra pictórica, executada sobre suportes de grande formato, a linearidade e simplificação dos corpos humanos convive com jogos de contraste de cor e luz, caracterizadores do Fauvismo.
Em meados dos anos 40, estende a sua actividade artística à cerâmica, produzindo peças de cariz decorativo.
Ainda nessa década, contribui para a decoração do café "A Brasileira" e do "Bristol Clube" em Lisboa.
Faleceu na capital no ano de 1971.
Jorge Barradas. In Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-01-17].
sábado, 10 de janeiro de 2009
Manuel António Pina
A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.
E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.
Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.
Manuel António Pina
Os paraísos artificiais....
Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.
Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores.
O cântico das aves — não há cânticos,
mas só canários de 3º andar e papagaios de 5º.
E a música do vento é frio nos pardieiros.
Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
LUIZ PACHECO
LUIZ PACHECO (1925-2008)
[in Textos de Guerrilha 2, Ler Editora, 1981]
Anarcaqista Quanta anarquia guardo Quanta mudança existe em mim Hoje, fecho os olhos, na rua, nos transportes, em tudo onde t...
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Ontem para a minha maior surpresa Apareceste na minha frente, melhor apanhei-te do chão Surreal, como pode ser estares assim como armadi...
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"Não é possível viver sem nos implicarmos. «O mundo está em chamas», dizem há quase três mil anos os textos budistas, «o fogo da ignor...