sábado, 17 de janeiro de 2009

Jorge Nicholson Moore Barradas, (Lisboa, 1894 - 1971)



Pintor português, Jorge Nicholson Moore Barradas nasceu em 1894, em Lisboa.
Os seus primeiros trabalhos, incursões no campo da caricatura e da ilustração, recolheram da crítica da época os melhores elogios. Enquanto ilustrador, colaborou em importantes jornais e revistas, como a Ideia Nacional , Seara Nova e Ilustração Portuguesa .
A experiência no campo das artes gráficas influenciou as suas primeiras obras, caracterizadas por um equilíbrio de cor, texturas e luz, associado a uma simplicidade do tratamento das formas.
Jorge Barradas estabeleceu a ligação entre a inspiração naturalista e a tendência fauve em representações da cidade de Lisboa e das suas gentes. Os seus quadros mais famosos retratam as lavadeiras e as vendedoras ambulantes de Lisboa, na azáfama do dia-a-dia. Na sua obra pictórica, executada sobre suportes de grande formato, a linearidade e simplificação dos corpos humanos convive com jogos de contraste de cor e luz, caracterizadores do Fauvismo.
Em meados dos anos 40, estende a sua actividade artística à cerâmica, produzindo peças de cariz decorativo.
Ainda nessa década, contribui para a decoração do café "A Brasileira" e do "Bristol Clube" em Lisboa.
Faleceu na capital no ano de 1971.

Jorge Barradas. In Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-01-17].

sábado, 10 de janeiro de 2009

Manuel António Pina



A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.

E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.

Manuel António Pina

Os paraísos artificiais....


Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.

Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores.

O cântico das aves — não há cânticos,
mas só canários de 3º andar e papagaios de 5º.
E a música do vento é frio nos pardieiros.

Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.

A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.

Jorge de Sena

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

LUIZ PACHECO

«e, de repente, apetece morrer. Apetece o grande sossego, imóbil e definitivo. Realmente dormir acabado. O silêncio. A solidão sem sobressaltos paisagens caras novas. A paz connosco. E sem espelho. Não ver ninguém, já mais ninguém. Esta esperança mais que certa seja acompanhada de cantos e alegria. Sem olhar para trás, para quem fica andando, inda ache graça. Os imprevisíveis lamentáveis acidentes da nossa viagem, mesmo os veniais, aqueles de que nos não demos conta na altura mas ficaram vibrando ocultos em nós como alarmes parasitas, clandestinos mas insistentes, uma térmita na aparência insignificante inofensiva embora voraz e teimosa, continuaram ressoando corroendo desfazendo lentamente uma qualquer fibra que nunca saberemos onde estava e era importante. Não se previa já? ou seria então o alvo determinado, a rota desde sempre planeada que muito nos espanta permanecesse assim mascarada doutros caminhos possíveis. A sabermos tudo antes, que chateza, que falta de iniciativa! morte prematura. Insisto, jogando no António Maria Lisboa: apetece descansar e deixar os outros descansar e descansados.»

LUIZ PACHECO (1925-2008)

[in Textos de Guerrilha 2, Ler Editora, 1981]

          Anarcaqista    Quanta anarquia guardo  Quanta mudança existe em mim  Hoje, fecho os olhos, na rua, nos transportes, em tudo onde t...